Luto, solidão e ausências podem ser os protagonistas por trás dos bebês reborn 3j191r
Para além do colecionismo, a "maternidade" de bonecos realistas, em alguns casos, pode ser uma maneira de lidar com a dor, traumas e ausências afetivas 3w853
De repente, o debate público voltou-se a bonecas. Nas redes sociais, uma avalanche de vídeos de pessoas — mulheres adultas, em sua maioria — que colecionam os chamados bebês reborn, e provocam acaloradas discussões, apontamentos e julgamentos.
Neste cenário tem de tudo: colecionadoras que apenas gostam da estética realista dos bebês, criadores de conteúdo que encenam rotinas reais de cuidados maternos para chamar atenção e viralizar e artesãos que fabricam e vendem. O que pouco tem se falado, no entanto, é que do outro lado dessa linha, tem pessoas que utilizam as bonecas para lidar com a dor, traumas ou ausências afetivas.
Em geral, essas pessoas não são as que dão às caras. Não fazem vídeo para suas redes sociais, não saem às ruas para exibir a “criança”. Pelo contrário: mantêm esse apego em silêncio.
- Gosto metálico na boca pode ser sinal de falta de vitamina B12
- Travesseiro amarelado? Spray caseiro e cara nova em minutos
- Não diga que eu não avisei: você vai se apegar MUITO a essas 5 séries
- Universidade na Itália oferece bolsas de 100% para brasileiros
Segundo a psicanalista e neuropsicóloga Andrea Ladislau, nesses casos, a ligação emocional pode ser real, mesmo sendo direcionada a um objeto inanimado.
“Não podemos generalizar as razões, afinal, somos seres individualizados e a resposta tem a ver com a construção da trajetória de vida de cada um. É preciso entender o histórico das experiências anteriores, pois uma infertilidade, uma desilusão amorosa profunda, a perda de um filho, uma solidão crônica e intensa, ou mesmo a cicatriz de uma maternidade interrompida ou frustrada podem ser o ponto de partida para a compreensão dessa conexão”, explica a psicanalista.
De acordo com a Dra. Andrea, essas bonecas são consideradas excelentes ferramentas terapêuticas, por aproximar a realidade interna do indivíduo com o mundo exterior, podendo auxiliar na elaboração dos sentimentos e na expressão emocional. Claro que tudo isso deve ser feito com uma metodologia estruturada e mediada por profissionais de saúde qualificados.

Ainda de acordo com a psicanalista, em alguns casos, o uso da boneca permite a expressão de sentimentos reprimidos, como dor, raiva, medo e amor, além de promover a autorregulação emocional. “Há resultados importantes que já estão sendo observados, como respostas, pelos profissionais da área de saúde mental”, diz a especialista.
No entanto, ela frisa que nem sempre há sofrimento psíquico. “Não é regra que todas as mulheres que se tornam ‘mães de um bebê reborn’ estão vivendo um sofrimento psíquico. Muitas são apenas colecionadoras e lidam com a situação sem qualquer dor ou sentimento distorcido.”
Até que ponto pode ser saudável? 39123c
É importante diferenciar o uso terapêutico do uso patológico desses objetos simbólicos. Quando bem conduzida e acompanhada por profissionais da saúde mental, a maternidade simbólica pode servir como ferramenta de autorregulação emocional e ressignificação de traumas. O problema surge quando essas práticas deixam de ser pontes para o real e tornam-se substitutas da realidade.
“Todo excesso reflete uma falta e quando o apego começa a interferir na vida humana e afetar a sua relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo em si, deixa de ser funcional”, explica a psicanalista.
Ela diz ainda que a elevação do apego emocional ou da dependência por um boneco, bem como o isolamento social intenso e o desenvolvimento de aspectos infantilizados que indicam regressão psíquica devem ser interpretados como sinais de alerta.
“Casos assim podem sinalizar transtornos psíquicos mais complexos, como estruturas borderline ou psicóticas, e precisam ser acompanhados por profissionais da saúde mental”, alerta a Dra. Andrea Ladislau.

Preenchimento de lacunas emocionais sem o peso da frustração 4k5w26
Outro ponto debatido sobre a “maternidade reborn” é que, na prática, ela pode funcionar como um escapismo da realidade: uma experiência controlada, sem os desafios que a vida real impõe. Afinal, com as bonecas, não há choro ininterrupto, noites sem dormir, ou frustrações típicas da criação de um filho. Ao contrário, há uma espécie de maternidade idealizada e sem riscos.
Esse fenômeno guarda muitas semelhanças com o de pessoas que estabelecem relações emocionais com inteligências artificiais, como assistentes virtuais e chatbots, que simulam empatia e companhia.
Assim como no caso das bonecas reborn, a interação com uma IA pode fornecer alívio imediato para sentimentos de abandono, rejeição ou insegurança. No entanto, diferentemente de um relacionamento real, essas relações oferecem total previsibilidade e ausência de conflito. Ou seja, sem riscos emocionais.
Linchamento virtual 6w523s
A grande questão que dá mais evidência às bonecas reborn é o julgamento social. Com o compartilhamento das rotinas de cuidados dos bebês, em muitos casos publicados por criadores de conteúdo com o intuito de viralizar, o assunto virou palco para ataques e linchamentos virtuais. A psicanalista explica que esse incômodo coletivo muitas vezes revela mais sobre quem julga do que sobre quem cuida.
“Se o hábito do outro me incomoda, a questão é mais minha do que do outro”, afirma. Ela reforça que apontar ou rotular essa forma de vínculo como farsa é falta de empatia. “Não podemos apontar dedos, pois não sabemos o que dói no outro”, diz.
Segundo ela, as redes sociais acabam sendo uma grande vitrine que possibilita o julgamento e os ataques, uma vez que os julgadores se escondem através da ferramenta tecnológica.
“É importante considerar que, o boneco reborn pode sim, ser útil no trabalho de recuperação da autoestima, da capacidade de amar e da elaboração do sofrimento. Portanto, o problema está na banalização do tema e na forma como algumas pessoas estão utilizando os reborn. Isso é o que está gerando a indignação popular e atraindo ataques e dedos apontados”, conclui.