Quer engravidar no futuro? Saiba qual a idade ideal para congelar seus óvulos 6j193d

Ginecologistas especialistas em reprodução humana explicam por que o tempo é fator decisivo na preservação da fertilidade 2ox4u

10/06/2025 16:05 / Atualizado em 11/06/2025 16:43

A cada ciclo menstrual, a reserva de óvulos das mulheres reduz. No entanto, uma parcela significativa delas desconhece que a partir dos 35 anos a fertilidade começa a declinar de forma mais acentuada, o que pode tornar o processo de engravidar naturalmente mais difícil.

A corrida biológica contra o tempo nem sempre é justa. Muitas mulheres escolhem ter filhos mais tarde na vida, seja por estabilidade financeira, emocional ou de um relacionamento sólido, e sem veem numa encruzilhada. É aí que surge o caminho do congelamento de óvulos. 

Também conhecido como criopreservação de oócitos, o congelamento de óvulos envolve a coleta dos óvulos de uma mulher e seu congelamento para que ela possa tentar engravidar mais tarde por meio de fertilização in vitro (FIV).

Junho, conhecido como o mês mundial de conscientização da infertilidade, é um período voltado para falar sobre esse tema que impacta milhares de mulheres no Brasil. Por isso, a Catraca Livre conversou com dois médicos especialistas para entender qual o melhor momento para considerar o congelamento de óvulos.

Quando pensar no congelamento de óvulos? 4w6k1p

De acordo com os especialistas, o melhor período para considerar o congelamento é antes dos 35 anos, preferencialmente entre os 30 e 34. Isso porque, nessa faixa etária, tanto a quantidade quanto a qualidade dos óvulos são mais altas, o que aumenta as chances de sucesso reprodutivo futuro.

Segundo o Dr. Vamberto Maia Filho, ginecologista e especialista em reprodução humana, não existe uma idade limite absoluta para o congelamento de óvulos (criopreservação de oócitos), mas a idade da mulher no momento do congelamento é o principal determinante da eficácia do procedimento.

“Estudos mostram que mulheres que congelam óvulos antes dos 35 anos necessitam de um número significativamente menor de óvulos para alcançar uma chance maior de nascimento vivo, devido à maior proporção de óvulos euploides (cromossomicamente normais) e melhor competência embrionária”, diz.

Como exemplo, ele explica que, para obter ao menos três embriões “normais” (euploides – o que confere uma chance acumulada de nascimento vivo superior a 90%), uma mulher com menos de 35 anos precisa de cerca de 15 óvulos maduros. Já mulheres com 38 anos ou mais precisarão do dobro — e esse número pode triplicar após os 40 anos.

Mulheres que congelam óvulos antes dos 35 anos necessitam de um número significativamente menor de óvulos para alcançar uma chance maior de nascimento vivo
Mulheres que congelam óvulos antes dos 35 anos necessitam de um número significativamente menor de óvulos para alcançar uma chance maior de nascimento vivo - Morsa Images/istock

Quero congelar meus óvulos. Quais os primeiros os? 605r6e

O ginecologista e obstetra Dr. Ricardo Nascimento, da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), explica que para garantir que o procedimento ocorra com segurança e eficácia, é fundamental que a paciente esteja em boas condições de saúde, tanto clínica quanto ginecológica.

“Antes de iniciar o processo de congelamento, a mulher deve ar por uma avaliação médica completa. Exames como hemograma, glicemia, função tireoidiana e o preventivo do colo do útero fazem parte da rotina”, adianta.

Mas há dois exames essenciais para avaliar a reserva ovariana: 4e1u43

  • Ultrassonografia transvaginal: usada para avaliar o útero e os ovários, possibilitando a contagem dos folículos antrais — estruturas que contêm os óvulos.
  • Dosagem do hormônio anti-Mülleriano (AMH): exame de sangue que estima a quantidade de folículos presentes nos ovários, sendo o principal marcador da capacidade reprodutiva atual.

Dr. Nascimento explica que esses exames ajudam a estimar a resposta da paciente à estimulação ovariana e o sucesso potencial da coleta de óvulos.

O médico reforça que o congelamento de óvulos é uma alternativa tanto para mulheres que desejam preservar sua fertilidade, seja por desejo de maternidade tardia ou por razões médicas, como tratamento oncológico. “Importante destacar que homens trans também podem se beneficiar dessa técnica, especialmente antes do início da hormonização e da transição de gênero”.

O congelamento de óvulos é garantia de gravidez? 1w6i1x

Os profissionais reforçam que, embora a técnica aumente a possibilidade de preservar a fertilidade em relação ao envelhecimento ovariano, ela não garante que a mulher conseguirá engravidar no futuro. A taxa de sucesso depende de múltiplos fatores, sendo os principais a idade da mulher no momento do congelamento e o número de óvulos armazenados.

“Estudos mostram que, para mulheres com 35 anos ou menos, a taxa cumulativa de nascimento vivo pode chegar a 60,5% quando 10 óvulos são utilizados, enquanto para mulheres acima do 35 anos, essa taxa cai para cerca de 29,7% com o mesmo número de óvulos“, diz Dr. Vamberto Maia Filho.

Os médicos explicam que avaliação deve ser sempre individualizada, considerando fatores como a reserva ovariana e as condições clínicas da paciente. “Após os 40 anos, é comum que a resposta aos estímulos hormonais seja menor, exigindo planejamento mais cuidadoso e expectativas realistas”, completa Dr. Ricardo.

O congelamento de óvulos não garante gravidez, mas aumenta significativamente as chances de engravidar no futuro
O congelamento de óvulos não garante gravidez, mas aumenta significativamente as chances de engravidar no futuro - SanyaSM/istock

Quais as etapas do congelamento de óvulos? 6o316j

O processo de congelamento de óvulos envolve várias etapas. Abaixo, o Dr. Vamberto Maia Filho explica o o a o:

1. Avaliação inicial e planejamento 292g22

Antes do início, realiza-se avaliação da reserva ovariana, geralmente por dosagem de hormônio antimülleriano (AMH) e contagem de folículos antrais por ultrassonografia transvaginal, para estimar o potencial de resposta à estimulação ovariana.

2. Estimulação ovariana controlada 1r4bf

Utilizam-se gonadotrofinas (hormônios indutores da produção de óvulos) para estimular o crescimento de múltiplos folículos ovarianos.

Em geral, as injeções hormonais são istradas diariamente durante a fase de estimulação. O objetivo é forçar os ovários a produzir múltiplos óvulos em um único ciclo
Em geral, as injeções hormonais são istradas diariamente durante a fase de estimulação. O objetivo é forçar os ovários a produzir múltiplos óvulos em um único ciclo - elenavolf/depositPhotos

3. Monitoramento folicular 134a4v

Durante cerca de 10 a 14 dias, o desenvolvimento folicular é monitorado por ultrassonografia e dosagem hormonais. Quando os folículos atingem tamanho adequado (geralmente ≥17 mm), a maturação final é induzida e realizada a punção dos folículos.

4. Punção folicular 49221o

Aproximadamente 34-36 horas após o trigger (injeção hormonal para induzir a maturação final dos óvulos), realiza-se a aspiração transvaginal dos folículos sob sedação leve. Os oócitos são coletados juntamente com o líquido folicular.

5. Avaliação da maturidade dos oócitos 1n294k

Os oócitos recuperados são avaliados em laboratório; apenas os maduros são selecionados para criopreservação, pois apresentam maior potencial de sucesso após descongelamento.

6. Vitrificação dos oócitos 33423z

Os oócitos maduros são “congelados” em hastes próprias e catalogados.

7. Armazenamento 2m4x58

Os oócitos vitrificados são mantidos em tanques de nitrogênio líquido a -196°C, podendo ser armazenados por tempo indefinido sem perda significativa de viabilidade.

8. Descongelamento e uso futuro 4e5ze

Quando a paciente desejar utilizar os óvulos, estes são descongelados. A fertilização é realizada por injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI), em que um único espermatozoide é injetado diretamente no óvulo com auxílio de um micromanipulador.

Após o descongelamento dos óvulos e fertilização in vitro, os óvulos são cultivados em incubadoras para observar se houve fecundação
Após o descongelamento dos óvulos e fertilização in vitro, os óvulos são cultivados em incubadoras para observar se houve fecundação - guteksk7/istock

O que fazer com os óvulos congelados não utilizados? 604b2z

Quando uma mulher opta por não utilizar seus óvulos congelados, existem algumas opções reconhecidas e praticadas para a destinação desses óvulos.

De acordo com Dr. Vamberto, as principais alternativas documentadas na literatura médica incluem:

  • Descarte dos óvulos: a destruição dos óvulos é uma opção comum, especialmente quando a mulher sente que completou sua família ou não deseja mais utilizar os óvulos para reprodução.
  • Doação para pesquisa: a doação dos óvulos para pesquisa científica é frequentemente considerada uma alternativa altruísta, permitindo que o material biológico contribua para avanços em ciência reprodutiva ou outras áreas biomédicas. No entanto, de acordo com o médico, a frequência dessa opção varia conforme a disponibilidade de programas de pesquisa.
  • Doação para outras pessoas: a doação dos óvulos para outras mulheres ou casais com infertilidade é possível, mas envolve barreiras práticas e éticas, como a necessidade de triagem adicional, aconselhamento e consentimento informado.

O impacto emocional do processo 673w2k

O congelamento de óvulos não envolve apenas questões físicas. O processo, que lida com hormônios, injeções diárias, exames frequentes e incertezas sobre o tratamento, também contribui para o desgaste psicológico, podendo gerar sentimentos de angústia, ansiedade, frustração e até isolamento.

Por isso, o e emocional é considerado essencial. Clínicas de reprodução assistida integram psicólogos especializados em fertilidade — como os titulados em Psicologia da Reprodução Assistida —que entendem os desafios emocionais desse universo e podem ajudar as pacientes a elaborar sentimentos e lidar com frustrações.

Além disso, o apoio psicológico pode ser decisivo nos momentos em que o caminho se mostra mais difícil: em ciclos de FIV sem sucesso, quando há indicação da recepção de óvulos doados, ou quando a gravidez simplesmente não acontece. Nesses momentos, o cuidado emocional é tão importante quanto o físico. Como destaca o ginecologista Ricardo Nascimento, “informação e acolhimento são fundamentais desde o início”.